São Paulo – Composto de materiais rentáveis, se bem separado, o lixo eletrônico também guarda segredos e perigos para consumidores e catadores de materiais recicláveis. Apesar do descarte anual de milhares de peças, o processo de reciclagem ainda é caro e complexo. A manipulação errada de certos equipamentos, como monitores de vídeo, pode levar à contaminação de pessoas e do meio ambiente, afirmam especialistas ouvidos pela Rede Brasil Atual.
Até descobrir que os monitores de computador têm grande quantidade de chumbo e não podem ser violados, o catador Flávio Custódio “metia a marreta” para abrir os equipamentos que chegavam à sua cooperativa. “A gente metia marreta para limpar o material fino”, lembra Custódio.
“Já abri monitor. Não conhecia os perigos de contaminação, mas sabia do valor do cobre”, conta Walisom Borges da Silva, diretor de cooperativa de catadores em São Paulo. “Eu pensava que fosse vidro no interior do monitor, quando descobri sobre o chumbo fiquei assustado porque já corri esse risco muitas vezes”. Nas ruas, não é raro encontrar monitores desmontados, diz. “Tem gente que deixa o restante encostado em algum poste e pega só o cobre. Essa é a realidade”, constata.
Dos diversos equipamentos eletrônicos recebidos por catadores, como Flávio e Walisom, o produto mais difícil de dar destinação adequada são os monitores, explica a professora Tereza Cristina Carvalho, coordenadora geral do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Escola Politécnica da USP.
Apesar de existirem empresas que realizam a reciclagem desses equipamentos, “o custo é muito alto para limpar”, diz a professora. “Os monitores são o pior problema do lixo eletrônico, quase 70% dele é composto por chumbo e é contaminante”, adverte Carlos Alberto Conde Regina, do Instituto GEA – Ética e Cidadania.
Presente de grego
A recepção de monitores acaba sendo um “presente de grego” para os catadores, diz Mariana de Moraes Coelho, do instituto GEA. “Quem tem alguma consciência guarda em casa por falta de saber o que fazer ou acaba enviando para cooperativas junto com outros materiais como se fosse uma forma de compensar: 'você pega meu problema e leva um pouquinho de material reciclável'”, cita.
Por falta de informação de usuários e catadores, boa parte dos monitores acaba indo para lixões. Inteiros ou violados, esses equipamentos “estão sendo deixados como lixo normal, no meio de outros resíduos, e podem contaminar pessoas”, lamenta Carlos.
Fabricantes como a Dell e a Itautec recolhem os produtos. Mas um infindável número de aparelhos acaba descartado irregularmente.
As novas telas de computador e tevês de Led ou LCD não são menos perigosas que os antigos e pesados monitores, informa Carlos. “As pessoas estão querendo trocar os monitores por novas telas, bonitas, fininhas, que ocupam pouco espaço, mas elas também são um problema, porque basicamente são de mercúrio, que é outro contaminante”, expressa. “O mercúrio ataca o sistema nervoso central”.
No Brasil, a professora Tereza do Lassu conhece apenas duas empresas que realizam reciclagem, a Suzaquim e a Ativa, mas o processo é complexo e caro. Na Suzaquim, empresa que recicla produtos eletrônicos, o monitor é desmontado, separado e o plástico enviado para empresa específica de reciclagem desse tipo de material. O chumbo do monitor é transformado em “pó de vidro com chumbo” e misturado com o que restou da reciclagem das baterias. O resultado é uma massa que serve para a indústria de cerâmica vitrificada.
“Quando reciclam bateria, usam um processo que quebra as baterias e vão catalizando cada metal. Um catalizador retira o cobre, outro as outras substâncias. No final dessa massaroca fica uma massa que não tem utilidade. Aí a empresa pega o vidro que tem chumbo, mistura nessa massa e vende para a indústria de cerâmica vitrificada”, descreve.
Descarte
A alternativa de descarte de monitores com menos impacto ao meio ambiente é buscar um local que se responsabilize pelo encaminhamento adequado do material, como cooperativas ou empresas especializadas na reciclagem de materiais eletrônicos.
De acordo com Joyce Françoso, técnica de meio ambiente da indústria química Suzaquim, a empresa aceita remessas pequenas, mas pode haver cobrança para a reciclagem do material. “Depende do lote. Nós avaliamos. Pode sair a custo zero ou pagarmos um valor pelos materiais ou ainda a pessoa ter de pagar”, informa. Encaminhar três monitores para reciclagem custa por volta de R$ 300, adiantou a especialista à reportagem.
Cooperativas de catadores também estão se especializando em avaliar computadores e reaproveitar materiais para evitar que materiais tóxicos cheguem aos aterros sanitários. “A população não sabe o perigo que corre e precisa buscar a consciência ambiental”, analisa o catador Romeu de Bueno. Ele é um dos alunos do Projeto Eco-Eletro, uma iniciativa do Laboratório de Sustentabilidade da USP em conjunto com o GEA. Romeu, que é aluno do último ano de engenharia elétrica na capital paulista, cita que por falta de conhecimento sobre os componentes tóxicos presentes em tevês e monitores, é comum as pessoas estourarem equipamentos para retirar a bobina. “Se soubessem o mal que fazem?”, indaga. “Nossos filhos vão pagar pelo que estamos fazendo hoje”, acredita Walisom Borges da Silva.
O site e-lixo.org do Instituto Sérgio Motta auxilia os consumidores a encontrarem locais adequados para destinação de lixo eletrônico. Cooperativas e empresas podem se cadastrar para receber materiais e usuários podem ter informações sobre onde levar equipamentos.
O Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP recebe equipamentos de informática de pessoas físicas e da própria universidade. “Pessoas físicas podem trazer tudo que é de informática e telecomunicações, o que envolve computadores, monitores, teclados, celulares, centrais telefônicas, equipamentos de rede”, elenca Tereza, responsável pelo centro. (http://www.reciclaveis.com.br/)
Até descobrir que os monitores de computador têm grande quantidade de chumbo e não podem ser violados, o catador Flávio Custódio “metia a marreta” para abrir os equipamentos que chegavam à sua cooperativa. “A gente metia marreta para limpar o material fino”, lembra Custódio.
“Já abri monitor. Não conhecia os perigos de contaminação, mas sabia do valor do cobre”, conta Walisom Borges da Silva, diretor de cooperativa de catadores em São Paulo. “Eu pensava que fosse vidro no interior do monitor, quando descobri sobre o chumbo fiquei assustado porque já corri esse risco muitas vezes”. Nas ruas, não é raro encontrar monitores desmontados, diz. “Tem gente que deixa o restante encostado em algum poste e pega só o cobre. Essa é a realidade”, constata.
Dos diversos equipamentos eletrônicos recebidos por catadores, como Flávio e Walisom, o produto mais difícil de dar destinação adequada são os monitores, explica a professora Tereza Cristina Carvalho, coordenadora geral do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Escola Politécnica da USP.
Apesar de existirem empresas que realizam a reciclagem desses equipamentos, “o custo é muito alto para limpar”, diz a professora. “Os monitores são o pior problema do lixo eletrônico, quase 70% dele é composto por chumbo e é contaminante”, adverte Carlos Alberto Conde Regina, do Instituto GEA – Ética e Cidadania.
Presente de grego
A recepção de monitores acaba sendo um “presente de grego” para os catadores, diz Mariana de Moraes Coelho, do instituto GEA. “Quem tem alguma consciência guarda em casa por falta de saber o que fazer ou acaba enviando para cooperativas junto com outros materiais como se fosse uma forma de compensar: 'você pega meu problema e leva um pouquinho de material reciclável'”, cita.
Por falta de informação de usuários e catadores, boa parte dos monitores acaba indo para lixões. Inteiros ou violados, esses equipamentos “estão sendo deixados como lixo normal, no meio de outros resíduos, e podem contaminar pessoas”, lamenta Carlos.
Fabricantes como a Dell e a Itautec recolhem os produtos. Mas um infindável número de aparelhos acaba descartado irregularmente.
As novas telas de computador e tevês de Led ou LCD não são menos perigosas que os antigos e pesados monitores, informa Carlos. “As pessoas estão querendo trocar os monitores por novas telas, bonitas, fininhas, que ocupam pouco espaço, mas elas também são um problema, porque basicamente são de mercúrio, que é outro contaminante”, expressa. “O mercúrio ataca o sistema nervoso central”.
No Brasil, a professora Tereza do Lassu conhece apenas duas empresas que realizam reciclagem, a Suzaquim e a Ativa, mas o processo é complexo e caro. Na Suzaquim, empresa que recicla produtos eletrônicos, o monitor é desmontado, separado e o plástico enviado para empresa específica de reciclagem desse tipo de material. O chumbo do monitor é transformado em “pó de vidro com chumbo” e misturado com o que restou da reciclagem das baterias. O resultado é uma massa que serve para a indústria de cerâmica vitrificada.
“Quando reciclam bateria, usam um processo que quebra as baterias e vão catalizando cada metal. Um catalizador retira o cobre, outro as outras substâncias. No final dessa massaroca fica uma massa que não tem utilidade. Aí a empresa pega o vidro que tem chumbo, mistura nessa massa e vende para a indústria de cerâmica vitrificada”, descreve.
Descarte
A alternativa de descarte de monitores com menos impacto ao meio ambiente é buscar um local que se responsabilize pelo encaminhamento adequado do material, como cooperativas ou empresas especializadas na reciclagem de materiais eletrônicos.
De acordo com Joyce Françoso, técnica de meio ambiente da indústria química Suzaquim, a empresa aceita remessas pequenas, mas pode haver cobrança para a reciclagem do material. “Depende do lote. Nós avaliamos. Pode sair a custo zero ou pagarmos um valor pelos materiais ou ainda a pessoa ter de pagar”, informa. Encaminhar três monitores para reciclagem custa por volta de R$ 300, adiantou a especialista à reportagem.
Cooperativas de catadores também estão se especializando em avaliar computadores e reaproveitar materiais para evitar que materiais tóxicos cheguem aos aterros sanitários. “A população não sabe o perigo que corre e precisa buscar a consciência ambiental”, analisa o catador Romeu de Bueno. Ele é um dos alunos do Projeto Eco-Eletro, uma iniciativa do Laboratório de Sustentabilidade da USP em conjunto com o GEA. Romeu, que é aluno do último ano de engenharia elétrica na capital paulista, cita que por falta de conhecimento sobre os componentes tóxicos presentes em tevês e monitores, é comum as pessoas estourarem equipamentos para retirar a bobina. “Se soubessem o mal que fazem?”, indaga. “Nossos filhos vão pagar pelo que estamos fazendo hoje”, acredita Walisom Borges da Silva.
O site e-lixo.org do Instituto Sérgio Motta auxilia os consumidores a encontrarem locais adequados para destinação de lixo eletrônico. Cooperativas e empresas podem se cadastrar para receber materiais e usuários podem ter informações sobre onde levar equipamentos.
O Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP recebe equipamentos de informática de pessoas físicas e da própria universidade. “Pessoas físicas podem trazer tudo que é de informática e telecomunicações, o que envolve computadores, monitores, teclados, celulares, centrais telefônicas, equipamentos de rede”, elenca Tereza, responsável pelo centro. (http://www.reciclaveis.com.br/)
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